Caciques do centrão jogam xadrez presidencial: peças são Tarcísio, Michelle e Ratinho Jr

Os líderes do centrão disputam um jogo pragmático de bastidores para tentar sair das eleições de 2026 como o cacique mais poderoso da política brasileira. Cientes do ambiente volátil ao qual pertencem, eles sabem que existem somente duas certezas: “Muita água ainda vai rolar” até a escolha do candidato a presidente pela centro-direita; e “tudo pode acontecer” até as eleições.

No momento, esta corrida pelo poder está em velocidade reduzida por conta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Cabe a ele dar o lance inicial em um xadrez no qual nem faz parte por estar inelegível e condenado por tentativa de golpe. Mesmo assim, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, insiste que o partido ainda trabalha com o nome de Bolsonaro para 2026.

De onde vem a esperança? Supostamente da anistia que pode ser votada no Congresso. Essa crença num cenário cada vez mais difícil faz Bolsonaro e Valdemar resistirem a colocar outra peça no jogo. Ao mesmo tempo, os caciques do centrão se movem discretamente, pois o rótulo de traidor pode afundar suas pretensões eleitorais.

olsonaro, obviamente, não quer perder seu capital político. Sabe que passar o bastão diminui suas chances de voltar ao tabuleiro de xadrez. A esperança final dele é escolher alguém que prometa um indulto caso seja eleito presidente.

O centrão tem outras prioridades. Quer que o ex-presidente escolha um sucessor até dezembro. O movimento de Bolsonaro depende de um casamento de interesses com os caciques do centrão. A partir deste acordo, o jogo destrava e os partidos tomarão uma série de decisões mirando os resultados citados abaixo.

Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL

Depois que perdeu o posto de maior bancada do Congresso para a federação União Brasil e PP, Valdemar se prepara para mais uma campanha robusta em 2026. Só no primeiro semestre deste ano, o Fundo Partidário repassou R$ 95,9 milhões ao partido.

Ele, no entanto, está de certa forma impedido de fazer movimentos para buscar um substituto para Bolsonaro e começa a correr o risco de ficar sem um candidato à Presidência. No PL, o que se diz é que essa novela precisa ter algum desfecho até dezembro.

Michelle é um nome importante do partido, mas, segundo apurou o UOL, nas conversas que Valdemar e Bolsonaro estão tendo sobre as candidaturas, o ex-presidente trabalha mais com a possibilidade de a ex-primeira-dama disputar uma vaga no Senado por Brasília. “É uma vaga garantida”, dizem membros do partido.

Marcos Pereira – Republicanos
Presidente do partido do governador Tarcísio de Freitas, Marcos Pereira evita falar publicamente sobre os rumos do Republicanos. Obviamente, caso o governador seja candidato à Presidência, o cacique vai aproveitar esse palanque nacional para reforçar bancada.

Tarcísio, por outro lado, tem demonstrado mais interesse em concorrer à reeleição. O governador sabe que, se perder para Lula (PT) em 2026, pode acabar precipitando o fim de sua recente carreira política.

Pereira tem sinalizado simpatia a uma possível chapa Tarcísio e Michelle. Nos bastidores, essa costura com Republicanos na cabeça de chapa e Michelle como vice é vista como um “alinhamento

Marcos Pereira – Republicanos
Presidente do partido do governador Tarcísio de Freitas, Marcos Pereira evita falar publicamente sobre os rumos do Republicanos. Obviamente, caso o governador seja candidato à Presidência, o cacique vai aproveitar esse palanque nacional para reforçar bancada.

Tarcísio, por outro lado, tem demonstrado mais interesse em concorrer à reeleição. O governador sabe que, se perder para Lula (PT) em 2026, pode acabar precipitando o fim de sua recente carreira política.

Pereira tem sinalizado simpatia a uma possível chapa Tarcísio e Michelle. Nos bastidores, essa costura com Republicanos na cabeça de chapa e Michelle como vice é vista como um “alinhamento importante entre duas legendas fortes de direita”.

Gilberto Kassab – PSD
As estratégias de Kassab são acompanhadas com atenção. Ele transformou o PSD no partido que mais controla cidades no país. Fez 887 prefeitos nas últimas eleições.

O presidente do PSD tem muito a ganhar se os acontecimentos se desenrolarem como deseja. Kassab trabalha para emplacar Ratinho Jr como o candidato da direita e concorrer com a bênção de Bolsonaro. O efeito esperado é turbinar a bancada do partido. A projeção é repetir o PL, que elegeu a maior bancada da Câmara com o ex-presidente como cabo eleitoral.

Para alçar o nome do governador do Paraná, Kassab tem promovido jantares em São Paulo com empresários e levado Ratinho Junior para conversar com expoentes do mercado financeiro.

Kassab também tem planos para si. Ratinho Jr. ser candidato a presidente significa Tarcísio disputando a reeleição. O presidente do PSD quer ser vice nesta chapa. Ele acredita que pode inclusive assumir o governo de São Paulo se Tarcísio deixar o cargo para tentar o Planalto em 2030.

Tarcísio até tem sinalizado simpatia pela candidatura de Ratinho, mas não dá garantias de que fechará com Kassab como seu vice.

Ciro Nogueira e Antônio Rueda – União Progressista
Os dois caciques se juntaram em uma federação entre o Progressistas de Ciro com o União Brasil de Rueda para ter a maior bancada de deputados e senadores. Assim, esperavam direcionar os rumos da direita para seus interesses. Fatores externos, porém, estão atrapalhando os planos.

A situação de Rueda é mais complicada. O piloto de um avião ligado ao PCC colocou o presidente do União Brasil no noticiário sobre investigações que ligaram a facção criminosa à Faria Lima.

A PEC da Blindagem parecia ser uma saída. A proposta exigiria autorização do Congresso para presidentes de partidos serem processados. A população foi às ruas protestar contra a proposta —que foi enterrada pelo Senado. Rueda mirou o escudo da blindagem e recebeu o desgaste do União Brasil.

Já Ciro Nogueira trabalha para ser vice-presidente em uma chapa, preferencialmente com Tarcísio. A tarefa está difícil porque o governador não demonstra interesse em tentar o Planalto. Além disso, uma costura entre Republicanos e a federação deixaria o partido de Bolsonaro de fora da chapa.

Contra si, Ciro tem um difícil cenário em Brasília e no Piauí. O presidente do Progressistas tem uma eleição complicada e não aparece como favorito para uma das duas vagas a senador a que seu estado natal tem direito a eleger no ano que vem.

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