Casal de bolivianos trabalha até 16 horas por dia para ganhar R$ 1.300 por quase 400 shorts costurados

Há quase três anos, o Profissão Repórter acompanha o casal de bolivianos Gabriela e Bryan. Os dois foram resgatados, em setembro de 2020, em uma operação contra o trabalho análogo à escravidão em São Paulo, mas sem conseguir receber seus direitos, acabaram voltando à mesma situação seis meses depois, em março de 2021, e pediram para encerrar a participação deles na reportagem.

Dois anos depois da decisão, já este ano, a repórter Sara Pavani voltou a gravar com a família. Eles se mudaram para uma casa alugada com os quatro filhos e compraram duas máquinas de costura com o dinheiro do seguro-desemprego que receberam e de doações, mas seguem em uma rotina exaustiva de trabalho. Eles começam às 7h e, às vezes, terminam só à 1h.

“Agora as coisas estão um pouco ruins. Até agora não conseguimos nenhum trabalho e assim voltamos para a mesma coisa que estávamos. Estamos fazendo shorts; ganhando R$ 3,50 por cada um”, contou Bryan.

Em duas semanas, eles tiveram que costurar quase 400 shorts para ganhar R$ 1.300; só o aluguel da casa é R$ 1.800. No dia em que gravaram a entrevista, eles tiveram que virar a noite praticamente sem dormir para cumprir o prazo da entrega.

Bryan se emocionou ao falar como gostaria de encontrar um emprego para passar mais tempo com os filhos:

“Nós estamos tentando procurar outro trabalho fora para também ficar um tempo com as crianças. Sábado, domingo, a gente não sai. A gente se dá um tempo quando termina o serviço. Eu pego elas e falo para a Gabi: eu vou levar elas no parque ou vou levar na quadra. Mas tem que ser rapidinho. Vou lá, levo elas, elas jogam e volto para casa para seguir trabalhando, né? Nós esperamos que tudo isso vire, para nós e para nossos filhos. Se Deus quiser, vai dar certo”.

Questionada como é que é ver os pais trabalhando tanto, a filha mais velha lamentou: “Eu não gosto que eles trabalhem até tarde, porque eles não ficam muito tempo com a gente”.

O auditor fiscal do Ministério do Trabalho que acompanhou o resgate da família há três anos diz que não houve acordo, porque a empresa para qual eles trabalhavam nunca reconheceu a responsabilidade pelas condições de trabalho precárias e, agora, o pagamento depende da Justiça.

“O sistema brasileiro de enfrentamento ao trabalho escravo está falhando, e está falhando muito, ao não proporcionar nenhum tipo de alternativa para os trabalhadores que estão sendo resgatados. É fundamental que o sistema não se preocupe apenas com o momento da retirada, não se preocupe apenas com a punição, mas também com o pós-resgate”, afirma Renato Bignami.

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Fonte: g1.globo

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