Sem se sentir seguro, deputado Jean Wyllys decide deixar o mandato e o país

Deputado federal pelo PSOL vive com escolta, mas continua recebendo ameaças de morte

Em entrevista para a Folha de São Paulo, o deputado federal pelo Rio de Janeiro, Jean Wyllys (PSOL), afirmou que irá desistir do mandato que se inicia em fevereiro e que irá deixar o Brasil. O parlamentar diz receber ameaças de morte constantes, que não diminuíram mesmo depois que passou a andar com escolta.

Eleito com 24.295 votos para seu terceiro mandato consecutivo na Câmara Federal, Wyllys vive desde março do ano passado, quando a deputada estadual Marielle Franco (PSOL-RJ) foi assassinada, sob escolta policial. Hoje ele está de férias fora do país, de onde concedeu a entrevista.

“Como é que eu vou viver quatro anos da minha vida dentro de um carro blindado e sob escolta? Quatro anos da minha vida não podendo frequentar os lugares que eu frequento?”, questionou o deputado. “Essa não foi uma decisão fácil e implicou em muita dor, pois estou com isso também abrindo mão da proximidade da minha família, dos meus amigos queridos e das pessoas que gostam de mim e me queriam por perto”

Wyllys lembra de uma conversa que teve com o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, em que ele lhe aconselhou a se afastar da política. “Quando soube que eu estava ameaçado de morte, falou para mim: ‘Rapaz, se cuide. Os mártires não são heróis’. E é isso: eu não quero me sacrificar”.

O parlamentar também disse à Folha que um dos fatores que o fez tomar esta decisão foi a descoberta recente de que a mãe e a mulher de um ex-policial militar suspeito de chefiar a milícia investigada pela morte de Marielle eram funcionárias de Flávio Bolsonaro, quando ele era deputado estadual do Rio de Janeiro. “Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário”.

“O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim”, acrescenta Wyllys.

O deputado também cita a onda da fake news que permeou as eleições e 2018, sendo ele um dos alvos dos ataques. “A pena imposta, por exemplo, ao Alexandre Frota não repara o dano que ele produziu ao atribuir a mim um elogio da pedofilia. Eu vi minha reputação ser destruída por mentiras e eu, impotente, sem poder fazer nada. Isso se estendendo à minha família. As pessoas não têm ideia do que é ser alvo disso”.

Frota foi condenado em primeira instância na Justiça Federal, em dezembro do ano passado, a pagar uma indenização de R$ 295 mil por postar uma foto de Jean Wyllys acompanhada de uma declaração falsa: “A pedofilia é uma prática normal em diversas espécies de animal, anormal é o seu preconceito”.

O parlamentar não contou na entrevista quais seriam os planos e nem em que país ele deveria morar, mas brincou que diria que iria para Cuba.

 

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