Alexandre de Moraes: um ministro que dorme pouco e tira o sono do Planalto

Em meio ao clima de tensão entre o Planalto e o Supremo, Bolsonaro enviou três emissores no último dia 19 a São Paulo para tentar uma tragédia com o ministro

Alexandre de Moraes dorme pouco – em média, três, quatro horas por dia, mantém hábito de adolescência. Enquanto cumpre uma quarentena em São Paulo, com rotina de trabalho madrugada adentro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) “tira o sono” de empresários, parlamentares, youtubers e extremistas bolsonaristas, que entraram na mira de investigações acompanhadas de apreensão pelo Palácio do Planalto. Uma delas, ou pesquisa de notícias falsas – sobre ameaças, ofensas e notícias falsas disseminadas contra integrantes do STF e seus familiares – não vai acabar tão cedo. O Estadão apurou que o processo deve ser prorrogado por, no mínimo, 180 dias.

Um acidente trágico, duas opções cruciais e a “mão de Deus” colocaram o ministro “novato” do Supremo no epicentro das maiores questões jurídicas-políticas da atualidade. Em 2017, o relator da Operação Lava Jato na época, Teori Zavascki, morreu em acidente aéreo, abrindo uma vaga inesperada para o STF. O então presidente Michel Temer optou por Moraes, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, que já havia resolvido um caso de ameaças contra a primeira-dama, Marcela Temer.

A mesma experiência de Moraes, que mantém até hoje as conexões com o Ministério Público e a Polícia Militar de São Paulo, foi decisiva para o presidente do STF, Dias Toffoli, escolhendo o colega como relator da controvérsia e a pesquisa de notícias falsas. Uma investigação sobre o cerco sobre o chamado “gabinete de ódio”, grupo de avaliadores do Planalto comandado pelo verificador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos). A existência desse núcleo foi revelada na reportagem do Estadão no ano passado.

Com o sinal de que a ronda realiza trabalhos de pesquisa de notícias falsas, nem os integrantes da Corte sabem ao certo os desdobramentos da apuração, conduzidos por cinco delegados da Polícia Federal de Confiança de Moraes. É o mesmo tempo que atua em outro inquérito, que trata da organização e do financiamento de atos antidemocráticos. Nesse caso, o algoritmo do STF – responsável pela distribuição eletrônica dos processos do Corte – fez com que o caso parasse no gabinete de Moraes. Para um integrante do tribunal, foi “a mão de Deus”.

Moraes também foi efetivado recentemente como ministro titular do TSE, onde executa oito ações que investigam uma campanha de Bolsonaro em 2018. Como mais delicadas são como quatro que tratam de disparar mensagens de WhatsApp – e que podem receber testes compartilhados de testes de notícias falsas . “É uma coincidência muito particular: ao mesmo tempo que isso dá maior visibilidade dos fatos ao ministro Alexandre, ou coloca como vídeo preferencial do bolsonarismo”, disse o advogado criminalista Davi Tangerino, professor da FGV-SP.

“Moraes tem casca grossa, como se diz nenhum jargão popular. O sistema punitivo não é um DNA do ministro, talvez porque esse elemento tenha sido usado por Toffoli para uma missão. Não compre brigas desnecessárias no corte e voto com brevidade e clareza”, utilizado . “Alexandre parece ser o homem certo, no momento certo.”

O próprio Moraes já disse aos interlocutores que o “couro” ficou ainda mais resistente depois de sua passagem pelo Poder Executivo.

Trégua

Os riscos de uma eventual cassação de chapa Bolsonaro-Mourão preocupam o Planalto. Não há nenhum candidato a Bolsonaro, quem considera Moraes, ex-filiado ao PSDB, um ministro “militante” e veja com desconfiança sua proximidade com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Caberá ao ministro comandado pelo TSE nas próximas eleições presidenciais, em 2022.

Em meio ao clima de tensão entre o Planalto e o Supremo, Bolsonaro enviou três emissores no último dia 19 para São Paulo para tentar uma tragédia com o ministro, que já havia contrariado o presidente da República e suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para direção geral da Polícia Federal. Os ministros Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), André Mendonça (Justiça e Segurança Pública) e José Levi Mello (Advocacia-Geral da União) almoçaram e ficaram cerca de três horas na casa de Moraes.

Um dos participantes do encontro disse que seria uma “loucura” discutir como investigações na ocasião, mas que capturam uma quantidade menor de conversa já que é um gesto para distender o ambiente beligerante que ronda a Praça dos Três Poderes. Um deles lembrou que a harmonia é “essencial”. Integrantes do STF avaliam que a agenda não vai mudar em nada ou rumo aos inquéritos

É no seu apartamento, no bairro Jardim Europa, que Moraes ficou isolado para proteger a pandemia, ao lado de sua mulher, a advogada Viviane Barci de Moraes, com quem está casado há 28 anos. A distância, participa por videoconferência das sessões do STF. Volta e meia, beber uma água de uma caneca do Corinthians (presente no 3.º Batalhão de Choque da PM de São Paulo), quebrando assim como o solene dos julgamentos.

Moraes aproveita quarentena para terminar três leituras simultâneas: Marco Aurélio: O imperador filósofo; Sermão do Mandato de Padre Antônio Vieira; e Fascismo – Um Alerta – em que autora, ex-secretária de Estado dos Estados Unidos Madeleine Albright, indica que fascismo ainda é uma ameaça à paz. Em solenidade no mês passado, Moraes deu o seguinte: “Não existe democracia sem poder judiciário forte. E não há poder judiciário forte sem juiz independente, altivo e seguro”.

Estadão Conteúdo

 

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