Análise: Flamengo “joga à Gabigol”, atropela o Grêmio em nove minutos e acorda no Brasileirão

Decisivo com gol e assistências, atacante faz a diferença também com atitude vibrante e comanda equipe que criou cinco chances claras e fez três gols dos 11 aos 20 do segundo tempo

Num passado não muito distante, a expressão “jogar à Flamengo” virou definição de um futebol bonito e vencedor. A beleza se foi, o favoritismo absoluto também, mas faltando seis rodadas para o fim do Brasileirão, a vitória sobre o Grêmio deixa uma lição: se não dá para encantar, é preciso competir. É preciso “jogar à Gabigol”.

Analisar a virada a jato, com três gols em nove minutos, no 4 a 2 da noite de quinta-feira em Porto Alegre vai além de questões meramente táticas ou técnicas. Passa muito pelo estado anímico de um Flamengo que se acostumou a sobrar na turma e parece perdido quando precisa fazer força para vencer no Brasileirão. E é aí que Gabriel transcende os 22 gols e 12 assistências em 37 jogos na temporada.

Quando Rogério Ceni é tão criticado pela substituição na derrota para o Athletico-PR e justifica com deficiências defensivas do atacante, é preciso entender: não é apenas o que ele é capaz de fazer para o time. É também o que ele é capaz de fazer com o time. E o que se viu na Arena do Grêmio sintetiza isso.

O tão criticado Flamengo de Rogério está longe de ser um time bagunçado, não é um time sem repertório e muito menos é pior do que os concorrentes pelo título. As tantas chances criadas e desperdiçadas mesmo em derrotas com cara de vexame como a do Ceará mostram isso. Falta, porém, jogar mais “à Gabigol”.

Gabigol na temporada 2020

  • 37 jogos (34 como titular)
  • 34 participações diretas em gol
  • 22 gols (artilheiro da equipe ao lado de Pedro)
  • 12 assistências (principal garçom da equipe)

Depois do empate com o Fortaleza, no Castelão, um profissional do clube me confidenciou: “O Gabigol faz muita falta. Com ele, o ambiente é diferente. Ele corre, grita, briga com o adversário, com o árbitro, reclama de si mesmo. Todo mundo fica mais ligado, até para cuidar dele”. Análise perfeita.

O Flamengo do primeiro tempo contra o Grêmio parecia um time sem forças para se impor. No jogo que valia a vida no campeonato, a equipe trocava a bola no ataque, esperava o adversário dar espaços. Uma postura de “deixa acontecer naturalmente”. E aconteceu o gol gaúcho.

Filipe Luís e Gerson estavam onde deviam estar, mas Alisson teve liberdade para puxar para o meio e cruzar. Gustavo Henrique e Arão também estavam onde deviam estar, mas Diego Souza infiltrou e testou com facilidade. Marcação passiva de um time que tem uma dificuldade imensa para machucar, e quando dá por si já foi machucado.

Gabigol tinha sido a exceção no primeiro tempo. As duas chances desperdiçadas na frente de Vanderlei poderiam custar caro, mas também geraram sinais raros de indignação neste Flamengo. Sentimento transformado em poder de decisão na volta do intervalo.

Com Arrascaeta pela esquerda e Bruno Henrique mais avançado, Rogério Ceni indicou o caminho que foi aberto por Gabigol. Incansável de um lado para o outro, o camisa 9 chacoalhava os companheiros a cada tentativa de jogada, pedia a bola e iniciou seu recital com passe na medida para Everton Ribeiro empatar aos 11.

A chapada perfeita da entrada da área três minutos depois foi fundamental para o Flamengo não perder o pique, e a atitude somada a eficiência de Gabriel fizeram com que o time arrumado e cabisbaixo do primeiro tempo estufasse o peito para se impor de cabeça em pé sobre o Grêmio.

Gabigol pelo Flamengo

  • 96 jogos
  • 65 gols
  • 23 assistências

Dos 11 aos 20, foram nove minutos em que “jogar à Gabigol” fez o time também “jogar à Flamengo”. Já em vantagem no placar, Arrascaeta e Ribeiro desperdiçaram chances claríssimas até que o uruguaio aproveitou mais uma assistência de Gabriel para fazer o 3 a 1.

O Flamengo que tinha 45 minutos para sobreviver no Brasileirão precisou de apenas 20 e de Gabigol. As mudanças repetidas e insistentes de Rogério Ceni ainda fizeram com que o Grêmio crescesse. Por mais que troque peças com características similares, a diferença técnica gigantesca faz o time se retrair. Não são poucos os exemplos nestes 16 jogos com o treinador.

Diego Souza diminuiu, Isla fez 4 a 2, e a verdade é que aqueles nove minutos foram suficientes. Faltando seis rodadas, o Flamengo está vivo na briga por mais um título do Brasileirão.

Com 18 pontos em disputa e um confronto direto, a diferença é de quatro para o Inter. Seis partidas em que, antes de querer “jogar à Flamengo”, é preciso “jogar à Gabigol”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *